Sobre a minha recente experiência com a relação
tempo/trabalho
Isabella Barbosa
Sou uma (não sei como me caracterizar sem parecer velha ou jovem demais). Bem, tenho 38 anos, sou casada, mãe de dois filhos - uma linda pré-adolescente e um garotão de 6 anos que é um encanto. Essa descrição é relevante para o assunto em questão. É certo que “Do outro lado da linha” é um título que não diz muito, mas quando o significado dessa “linha” for conhecido, tudo ficará mais claro.
Desde
que minha primeira filha nasceu, há quase 12 anos, me impus um limite de tempo
dedicado ao trabalho para que pudesse acompanhá-la, estar perto dela, vê-la
crescer e poder orientá-la e influenciá-la. Em nome disso, precisei abrir mão
de muitas oportunidades nos âmbitos formação e trabalho e me vi, por vezes, a
passos lentos enquanto sentia que muitos ao meu entorno corriam. Daí veio o meu
filho e resolvi fazer o mesmo. Imaginei, desta feita, uma linha da qual não
poderia passar, mesmo que isso me custasse permanecer aquém em muitos
requisitos que tornam alguém competitivo hoje. Essa decisão foi mesmo uma
questão de opção: decidi ser mãe e assumir as tarefas que esse papel requer
e nunca, nunca me arrependi disso.
No
entanto, há pouco tempo, surgiram circunstâncias e com elas oportunidades de maior
envolvimento com o trabalho. Alguns afazeres a mais, desafios que significariam
também alguns números a mais na conta bancária. Não por esse motivo, mas movida
por algo como “Vou deixar rolar. Vamos ver o que isso me reserva”, ultrapassei o
limite que me impus e que vigiei tanto tempo para não transgredi-lo. Fui para o
outro lado da linha...
Ultrapassar
o limite gerou outras e novas oportunidades: ampliação de network, o trabalho ficou mais evidente e os resultados também, vieram
conquistas e reconhecimento. Me vi em situações que significaram ampliar o
ritmo, a quantidade de passos e a distância a ser percorrida. Portas se abriram.
Tudo o que muitas pessoas hoje almejariam na profissão que escolheram. O outro
lado da linha é um lugar muito atraente...
A
despeito das conquistas que estar do outro lado da linha proporcionaram,
inclusive aqueles dígitos a mais na conta, algumas coisas não estavam bem.
Quanto mais me dedicava ao trabalho, menos tinha tempo para o maridão; para
brincar com meus filhos ou simplesmente ver alguma coisa, interessante ou não,
na TV ou mesmo para organizar suas vidas para que cumprissem bem suas rotinas.
Já não tinha tempo para participar das atividades da igreja da qual faço parte –
tempo para assumir um ministério ou qualquer projeto, nem pensar! Aproveitar
momentos de ócio pelo prazer de nada fazer; ler um livro que escolhi, sem
obrigação de ter que dar conta por algum motivo; escrever sobre qualquer coisa;
visitar meus pais; passar um bom tempo com minha irmã ao telefone... Enfim, ser
eu e fazer as coisas de que gosto e que me fazem bem já não faziam parte de
minha agenda. O tempo estava sendo consumido pelos compromissos inadiáveis que
os prazos suscitavam. E eu, minguando, do outro lado da linha.
Como
se não bastassem todos esses prejuízos, ganhar peso foi outra consequência,
pois precisei muitas vezes comer bastante à noite para conseguir ficar acordada
para trabalhar mais e dar conta de todas as emergências. Para uma sociedade
como a nossa, que cultua a imagem, talvez esse seja o maior de todos os males
cometidos, mais que qualquer um já citado (perspectiva terrível essa). Até que...
Atentando
para as minhas profundas olheiras e para todo o quadro pintado à minha volta; lembrando
de preciosos textos que dizem: “O que perturba a sua casa herda o vento”
(Provérbios 11. 29) e “(..) há tempo para todo propósito debaixo do céu”
(Eclesiastes 3. 1), resolvi retornar, voltar para o lado de cá da linha. Não
posso dizer que é “de onde nunca deveria ter saído”, pois, apesar de tudo, a
experiência de viver essas situações tornou ainda mais forte a convicção do
retorno. Assim, posso afirmar que o retorno e o desejo de permanência não são provenientes
da falta de escolhas ou da ausência de oportunidades. Tampouco é pela obrigação
de ter que dar conta de casa, marido e filhos, como muitos pensam e até eu
mesma pensei por algum tempo.
Para
quem está do outro lado da linha, o lado de cá parece sem graça, sofrido e
doloroso, destinado aos menos capazes, aos que estão “à margem” das oportunidades (ouvi alguém
afirmar algo parecido). No entanto, dar passos mais lentos, suprimir alguns números do
contracheque e tudo o que isso pode significar, abrir mão de oportunidades pode
ser uma questão de opção. Significa decidir ter outras prioridades, dar uma
alterada na agenda e incluir nela coisas que não caberiam se permanecesse do
outro lado da linha. Sei que há muitos que tentam equilibrar as coisas. Talvez até
consigam, cada um sabe de si. O fato é que comigo não deu certo. O que estava
perdendo era precioso demais para que pudesse abrir mão. No outro lado da linha
tesouros podem ser corroídos.
Não
deixei o trabalho, mas diminuí o suficiente para voltar para o lado da linha
que ESCOLHI permanecer. E espero por aqui ficar. Porque tudo o de que estava
abrindo mão, faz parte do que sou. Vindo para o lado de cá da linha, tenho minha
vida de volta. Graças ao bom Deus!
Entendo bem o que você quis dizer e passou... por mais nova que eu seja e tenha bem menos resposabilidades que você, já passo por um pouco disso, e com certeza estar do lado de cá é bem melhor... Glórias a DEUS. Que Ele nos ajude a ficar do lado certo.
ResponderExcluir