(Gostaria de ter escrito isso, mas o
texto é de Ruth Manus, publicado no Estadão. Tive acesso em um compartilhamento da Profa Virgínia Spinassé. "Obrigada, Professora." Fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/ruth-manus/a-triste-geracao-que-virou-escrava-da-propria-carreira-2/)
E a
juventude vai escoando entre os dedos.
Era uma vez uma geração que se
achava muito livre.
Tinha pena dos avós, que casaram
cedo e nunca viajaram para a Europa.
Tinha pena dos pais, que tiveram que
camelar em empreguinhos ingratos e suar muitas camisas para pagar o aluguel, a
escola e as viagens em família para pousadas no interior.
Tinha pena de todos os que não
falavam inglês fluentemente.
Era uma vez uma geração que crescia
quase bilíngue. Depois vinham noções de francês, italiano, espanhol, alemão,
mandarim.
Frequentou as melhores escolas.
Entrou nas melhores faculdades.
Passou no processo seletivo dos
melhores estágios.
Foram efetivados. Ficaram
orgulhosos, com razão.
E veio pós, especialização,
mestrado, MBA. Os diplomas foram subindo pelas paredes.
Era uma vez uma geração que aos 20
ganhava o que não precisava. Aos 25 ganhava o que os pais ganharam aos 45. Aos
30 ganhava o que os pais ganharam na vida toda. Aos 35 ganhava o que os pais
nunca sonharam ganhar.
Ninguém podia os deter. A
experiência crescia diariamente, a carreira era meteórica, a conta bancária
estava cada dia mais bonita.
O problema era que o auge estava
cada vez mais longe. A meta estava cada vez mais distante. Algo como o burro
que persegue a cenoura ou o cão que corre atrás do próprio rabo.
O problema era uma nebulosa na qual
já não se podia distinguir o que era meta, o que era sonho, o que era gana, o
que era ambição, o que era ganância, o que necessário e o que era vício.
O dinheiro que estava na conta dava
para muitas viagens. Dava para visitar aquele amigo querido que estava em
Barcelona. Dava para realizar o sonho de conhecer a Tailândia. Dava para voar
bem alto.
Mas, sabe como é, né? Prioridades.
Acabavam sempre ficando ao invés de sempre ir.
Essa geração tentava se convencer de
que podia comprar saúde em caixinhas. Chegava a acreditar que uma hora de
corrida podia mesmo compensar todo o dano que fazia diariamente ao próprio
corpo.
Aos 20: ibuprofeno. Aos 25:
omeprazol. Aos 30: rivotril. Aos 35: stent.
Uma estranha geração que tomava café
para ficar acordada e comprimidos para dormir.
Oscilavam entre o sim e o não. Você
dá conta? Sim. Cumpre o prazo? Sim. Chega mais cedo? Sim. Sai mais tarde? Sim.
Quer se destacar na equipe? Sim.
Mas para a vida, costumava ser não:
Aos 20 eles não conseguiram estudar
para as provas da faculdade porque o estágio demandava muito.
Aos 25 eles não foram morar fora
porque havia uma perspectiva muito boa de promoção na empresa.
Aos 30 eles não foram no aniversário
de um velho amigo porque ficaram até as 2 da manhã no escritório.
Aos 35 eles não viram o filho andar
pela primeira vez. Quando chegavam, ele já tinha dormido, quando saíam ele não
tinha acordado.
Às vezes, choravam no carro e,
descuidadamente começavam a se perguntar se a vida dos pais e dos avós tinha
sido mesmo tão ruim como parecia.
Por um instante, chegavam a pensar
que talvez uma casinha pequena, um carro popular dividido entre o casal e
férias em um hotel fazenda pudessem fazer algum sentido.
Mas não dava mais tempo. Já eram
escravos do câmbio automático, do vinho francês, dos resorts, das imagens, das
expectativas da empresa, dos olhares curiosos dos “amigos”.
Era uma vez uma geração que se
achava muito livre. Afinal tinha conhecimento, tinha poder, tinha os melhores
cargos, tinha dinheiro.
Só não tinha controle do próprio
tempo.
Só não via que os dias estavam
passando.
Só não percebia que a juventude
estava escoando entre os dedos e que os bônus do final do ano não comprariam os
anos de volta.
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