Isabella Barbosa
Ah, nossa relação com o tempo.
Tenho refletido sobre isso nos últimos dias. Cada vez mais nos deparamos com
indicações sobre o quanto estamos apressados, sobre como o tempo se tem esgotado
sem o menor sinal de que o estejamos “domando”. A sensação é de que ele tem nos
engolido e nos vemos estressados, tentando viver como se o nosso alvo estivesse
sempre vários passos à frente.
Uso o plural, porque é
confortável o distanciamento que ele gera para quem escreve, mas o fato é que EU
tenho me visto assim. A barganha por um segundo mais de sono, o desespero que a
tal musiquinha do celular gera, anunciando “A correria vai começar”, são
indicadores de que a situação anda nada bem. Tenho aberto os olhos para
enxergar isso, mas até pouco tempo não era assim. Estava convencida de que OS
OUTROS sofriam desse problema, não eu, afinal tenho bons momentos de folga
durante a semana, privilégio de poucos. Mas, fui percebendo alguns sinais de
que não estava em céu de brigadeiro na minha relação com o tempo. Um deles é
frase que passei a ouvir com frequência de pessoas que precisavam contar
comigo numa ou noutra situação: “Não sei se você vai poder, sua vida é tão
corrida”. Outra situação foi ter ganho de meu pastor o livro “Super ocupado”
(Kevin DeYoung). No momento pensei: “Ele não me chamou de ocupada demais, ele
quer que eu leia para ajudar outros”. E tentei justificar, dizendo a ele
qualquer coisa a respeito. Percebi, também, minha atenção minguando, muito do
que ouvia se perdia num vazio, em virtude de minha ocupação primeira. Mas, o que
mais me chamou a atenção foi perceber o quanto estava distante de meu filho
mais novo, apesar de estar com ele boa parte do tempo. Percebi-o pelos cantos, à
mercê do videogame ou da TV, enquanto estava conferindo as mensagens ou o que
quer que seja. Uma ausência velada.
Após constatação e aceitação da
realidade, precisava pensar: se tenho as tais horas à minha disposição, conquistadas com tanto esforço, por que ando tão ocupada? Não foi difícil encontrar a resposta:
tenho gasto tempo demais na internet! Seja para responder àquela mensagem do
colega de trabalho, seja para conferir os
e-mails, seja para ler sobre aquele assunto emergente... estou muito tempo conectada.
Como entendo a armadilha das redes sociais, não estou em muitas delas, nem
visualizo as timelines com
frequência. Pelo contrário, procuro vê-las bem esporadicamente. Mas estou me
ocupando para outros fins, a maioria legítimos.
Restou-me perguntar: precisa ser
assim? Não tenho opção? Tenho ouvido (pela net) sobre ética e reforçado a visão
sobre o quanto as ESCOLHAS que fazemos são relevantes para o encaminhamento que
daremos à nossa vida. No tocante à tecnologia, “estamos sempre conectados, porque
estamos sempre nos conectando”, como bem expressa William Powers, em O BlackBerry de Hamlet: filosofia prática para viver bem na era digital. É simples assim. Ao ponderar,
descobri que posso me conectar menos e me ligar mais às vivências importantes
que estava deixando de lado. Descobri que muito de minha correria advém do fato
de perder tempo lendo mensagens, me atualizando sobre o que os outros postam, tentando responder a demandas que nem são tão
urgentes assim.
E sabe o que faço agora? Chego em
casa, certifico-me de que não deixei o celular no silencioso para que possa
ouvi-lo se tocar e fico na expectativa de ligações. O que for realmente
importante e urgente será digno de uma ligação, se não, é por que não era tão impreterível assim. Então, estabeleço alguns momentos no dia para conferir as mensagens. Com
essa estratégia, tenho descoberto o tempo novamente. Tenho-o sentido mais leve,
mais quieto, mais amigo. Voltei até a brincar com meu filho, acompanhar sua
tarefa sem que o percebesse chamar somente após o 5º “Mããããããe”, enquanto eu lidava
com mais uma olhadela nas mensagens.
Estou no início do processo de
reencontro com o tempo e ele tem se apresentado com uma nova cara para mim, bem
mais agradável. Espero continuar assim, mas não assumo tom de juramento ou
voto. Pelo contrário, como quem vive a consciência de sua fragilidade e dos
riscos da recaída, pretendo seguir o lema de outros tantos conscientes de sua
condição: “Só por hoje não!”. Desse modo, dia a dia, pretendo vencer a minha recente
mania de conferir a tela do celular e
viver o processo bíblico de remir o tempo.
É isso... simplesmente internet detox.
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