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Era uma vez o engano

Isabella Barbosa Era uma vez uma vila ou uma cidade ou um povoado ou uma metrópole. Era uma vez o povo desse lugar indeterminado, porque todos eles são possíveis. Era uma vez um desejo, um desejo que esteve nas almas, contido, pela palavra do rei do lugar, que dizia: “Se derdes vazão ao desejo, ele será contra vós”. Durante muito tempo, o desejo cedeu lugar à palavra do rei e nela se acreditava e a ela obedecia-se. Mas, num dia como noutro qualquer, disseram do rei: “Quem o pôs rei sobre nós? O que é isso que se chama reino? Por que temos que ouvir sua voz?”. Essas perguntas ecoaram, ganharam volume e, com o tempo, transformaram-se em afirmações: “Não há rei. O reino não existe. Não há voz alheia a nos guiar.” E, então, lembraram do desejo. Ah, o desejo. “Não há quem o contenha, o que nos impede de ceder?” E, de repente, o desejo de cada um tornou-se a lei de cada um. Já não havia limites, já não havia fronteiras, já não havia freios. O desejo era o senhor de todos. E o que...

A idolatria do desejo. Quero, logo existo!

Isabella Barbosa “Não preciso, mas quero!”, diz a propaganda recente de uma marca de cosméticos, na qual aparecem rostos bem distintos uns dos outros, que se revezam na repetição de tal frase. Dentre eles, um, familiar, o de uma famosa modelo, que chama a atenção para a mensagem que supostamente exalta a diversidade e o “ girl power ”, mas que, no fundo, quer conduzir “mulheres empoderadas” e conscientes de seus desejos a renderem-se à marca.  É cada vez mais comum, discursos de distintas naturezas – advindos do marketing, da filosofia, religião, arte - que exaltam a vontade da vontade, o apetite da alma, o elã revolucionário que põe em relevo uma dada noção de liberdade. Tomando como referência o “ cogito ” de Descarte, é possível afirmar que Quero, logo existo é uma síntese desse discurso. E se você existe/é, você pode! Desta feita, o poder se concretiza na prática dos desejos e muitos estão encantados com tudo isso. Assim, abrem as almas às vontades [1] e dei...