Assim como outros executivos do ramo da tecnologia, Steve Jobs limitava ao máximo o tempo que seus filhos podiam mexer em iPads e iPhones
Quando
Steve Jobs dirigia a Apple ele era conhecido por ligar para jornalistas para
lhes dar um tapinha nas costas por um artigo recente ou, com maior frequência,
para explicar como entenderam errado. Eu estive do outro lado da linha em uma
dessas ligações. Mas nada me chocou mais do que algo que Jobs me disse no final
de 2010, após acabar comigo por algo que escrevi sobre uma falha do iPad. "Então,
seus filhos devem adorar o iPad?" eu perguntei a Jobs, tentando mudar de
assunto. O primeiro tablet da empresa tinha acabado de chegar às
lojas. "Eles não o usaram", ele me disse. "Nós limitamos
quanta tecnologia nossos filhos usam em casa."
Eu
estou certo que respondi com um silêncio estupefato. Eu imaginava o lar de Jobs
como sendo um paraíso dos nerds: que as paredes eram telas de toque gigantes, a
mesa de jantar era feita de iPads e que iPods eram dados aos convidados como
chocolates em um travesseiro. Não, disse-me Jobs, longe disso.
Desde
então eu conheci vários executivos-chefe e capitalistas de risco que dizem
coisas semelhantes: eles limitam rigidamente o tempo de seus filhos diante de
telas, frequentemente proibindo todo tipo de aparelhos em noites de dias de
aula e alocando limites de tempo rígidos nos fins de semana.
Eu
fiquei perplexo por esse estilo de criação. Afinal, a maioria dos pais parece
adotar a abordagem oposta, permitindo que seus filhos se banhem no brilho de
tablets, smartphones e computadores, dia e noite. Mas esses executivos-chefe de
tecnologia parecem saber algo que o restante de nós não sabe.
Chris
Anderson, o ex-editor da revista "Wired" e agora executivo-chefe da
3D Robotics, uma fabricante de drones, institui limites de tempo e controle dos
pais em todos os aparelhos em seu lar.
"Meus
filhos acusam minha esposa e eu de sermos fascistas e exageradamente
preocupados com tecnologia, e dizem que nenhum de seus amigos enfrentam as
mesmas regras", ele disse sobre seus cinco filhos, com idades entre 6 e
17. "Isso se deve por termos vistos os riscos da tecnologia pessoalmente.
Eu já vi, e não quero que isso aconteça com meus filhos."
Os
riscos a que ele se refere incluem exposição a conteúdo prejudicial, como
pornografia, bullying de outras crianças, e talvez o pior de tudo, se tornar
viciado em seus aparelhos, como seus pais.
Alex
Constantinople, o executivo-chefe da OutCast Agency, uma empresa de
comunicações e marketing focada em tecnologia, disse que seu filho mais novo,
que tem 5 anos, não é autorizado a usar aparelhos no fim de semana, e seus
filhos mais velhos, de 10 a 13 anos, só podem usar 30 minutos por dia nas
noites de dias de aula.
Evan Williams, um fundador do Blooger, Twitter e Medium, e sua esposa, Sara Williams, disseram que em vez de iPads seus dois filhos pequenos têm centenas de livros (sim, físicos) que podem pegar e ler a qualquer hora.
Evan Williams, um fundador do Blooger, Twitter e Medium, e sua esposa, Sara Williams, disseram que em vez de iPads seus dois filhos pequenos têm centenas de livros (sim, físicos) que podem pegar e ler a qualquer hora.
E
como as mães e pais tecnológicos determinam os limites apropriados para seus
filhos? Em geral, de acordo com a idade. As crianças com menos de 10 anos
parecem mais suscetíveis a ficarem viciadas, de modo que esses pais decidem não
permitir acesso a quaisquer aparelhos durante a semana. Nos fins de semana, há
limites de 30 minutos a duas horas de uso do iPad e smartphone. E entre os 10 e
14 anos é permitido o uso do computador nas noites de dias de aula, mas apenas
para lição de casa.
"Nós
temos uma limitação rígida de acesso às telinhas para nossos filhos",
disse Lesley Gold, fundador e presidente-executivo do SutherlandGold Group, uma
empresa de relações entre mídia e tecnologia e análise. "Mas é preciso
relaxar à medida que ficam mais velhos e precisam do computador para a
escola."
Alguns
pais também proíbem adolescentes de usarem as redes sociais, exceto para
serviços como o Snapchat, que apaga as mensagens após serem enviadas. Assim,
eles não precisam se preocupar com ter dito algo online que venha a
assombrá-los no futuro, me disse um executivo.
Apesar
de alguns pais não ligados em tecnologia que conheço darem smartphones para
crianças de apenas 8 anos, muitos dos que trabalham em tecnologia esperam até
seus filhos terem 14. Apesar desses adolescentes poderem fazer chamadas e
enviar mensagens de texto, eles não recebem um plano de dados até os 16 anos.
Mas há uma regra que é universal entre os pais tecnológicos que entrevistei:
"Essa é a regra número 1: nada de telas no quarto. Ponto. Nunca", disse Anderson.
"Essa é a regra número 1: nada de telas no quarto. Ponto. Nunca", disse Anderson.
Apesar
de alguns pais tecnológicos estabeleceram limites baseados em tempo, outros são
mais rígidos sobre o que seus filhos podem fazer com seus aparelhos.
Ali Partovi, um fundador do iLike e consultor do Facebook, Dropbox e Zappos, disse que é preciso haver uma distinção forte entre o tempo gasto "consumindo", como assistir YouTube ou jogando games, e tempo gasto "criando" nas telas."Assim como eu não sonharia em limitar quanto tempo uma criança pode passar com seus pincéis, ou tocando piano ou escrevendo, eu acho absurdo limitar o tempo gasto criando arte no computador, editando vídeo ou fazendo programação", ele disse.
Ali Partovi, um fundador do iLike e consultor do Facebook, Dropbox e Zappos, disse que é preciso haver uma distinção forte entre o tempo gasto "consumindo", como assistir YouTube ou jogando games, e tempo gasto "criando" nas telas."Assim como eu não sonharia em limitar quanto tempo uma criança pode passar com seus pincéis, ou tocando piano ou escrevendo, eu acho absurdo limitar o tempo gasto criando arte no computador, editando vídeo ou fazendo programação", ele disse.
Outros
disseram que proibições totais podem sair pela culatra e criar um monstro
digital. Dick Costolo, presidente-executivo do Twitter, me disse que ele e sua
esposa aprovam uso ilimitado de aparelhos desde que seus dois filhos
adolescentes estejam na sala de estar. Eles acreditam que limitações demais de
tempo poderiam ter efeitos adversos sobre seus filhos.
"Quando
eu estava na Universidade de Michigan, tinha um sujeito que vivia no dormitório
vizinho ao meu, e ele tinha engradados e engradados de Coca-Cola e outros
refrigerantes em seu quarto", disse Costolo. "Eu descobri
posteriormente que era porque os pais dele nunca permitiram que ele tomasse
refrigerante quando era garoto. Se você não deixar seus filhos terem alguma
exposição a essas coisas, que problemas isso causará depois?"
Eu
nunca perguntei a Jobs o que seus filhos faziam em vez de usarem os aparelhos
que ele produzia, de modo que perguntei a Walter Isaacson, o autor de
"Steve Jobs", que passou muito tempo na casa dele.
"Toda
noite, Steve fazia questão de jantar na grande mesa longa na cozinha deles,
discutindo livros e história e uma variedade de coisas", ele disse.
"Ninguém nunca pegava um iPad ou computador. As crianças não pareciam nem
um pouco viciadas nesses aparelhos."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Fonte:http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/the-new-york-times/2014/09/11/steve-jobs-nao-deixava-os-filhos-mexerem-em-ipads-e-iphones.htm
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